León, Reino de Castilla y León
Voltamos ao Camino, com 6°C de temperatura, tempo claro, corações e mentes renovados pelo reconfortante dia anterior, de descanso e aventuras, nesta já querida cidade de León. À saída, paramos para tomar o café da manhã no restaurante do Hostal Bucallino, que fica numa localização privilegiada, no canto de uma praça, a poucas quadras da Calle Ancha e da Plaza onde se assenta a grande catedral.

Numa sequência de conversões, diligentemente conduzidas, de modo a cumprir em segurança nossa rota ciclística, para além da zona urbana central, até parece que os leonenses fazem uma certa confusão entre mão e contramão:
Mas, ainda assim, logramos sair de León e seguimos pedalando por lindos campos, num dia claro e com a temperatura—que chegaria aos 29°C ao final da tarde—em franca elevação. Passamos, pedalando com determinação, por vilazinhas com nomes estapafúrdios—Trobajo Del Camino, Valverde de la Virgen, Oncina de la Valdoncina, Santovenia de la Valdoncina, Chozas de Abajo e Villar de Mazarife.
Em Trobajo del Camino, pegamos a primeira série de subidas fortes do dia (logo ao sair de León) e reencontramos as bodegas, estas agora já cercadas pela crescente urbanização.
Na altura de Valverde de la Virgen, percorremos a segunda série de subidas, dessa vez alternada com descidas, em dois pares sucessivos, em pista asfaltada, mas com pouco movimento de veículos.

Passamos por dentro da vila de Oncina de la Valdoncina, onde encontramos mais das já familiares casas de adobe. O violão pendurado me diz tratar-se de um albergue voltado ao público jovem, mas não fui conferir.
Em Santovenia de la Valdoncina, o Caminho não entra na área urbana. Mas percorre sua bela área rural.
Já a pequena Chozas de Abajo, percorremos por inteiro, cruzando, inclusive, a área urbana e seguindo, por suaves ondulações, as curvas do terreno, até chegar ao vilarejo seguinte.


Seguimos, portanto, por esses declives delicados, até chegar a Villar de Mazarife e apreciar sua curiosa igreja, que faz um misto de templo, casa e silo, além de ter a torre povoada de cegonhas. Veja só:
Bem em frente e ao pé dessa torre, há um café, onde paramos para usar os aseos e tomar coca-colas com gelo e limão. Depois, ao sair de Villar de Mazarife, nos vimos numa longa estrada asfaltada—macia, reta e plana—que, de tão longa, nos tomaria todo o restante da manhã para percorrermos, até chegarmos a Bustillo del Páramo.
Pedal plano, levemente descendente, na verdade; retilíneo e em piso regular. Significa tempo para meditar e perceber o que vai pela alma. Como num filme, nos passam pela memória o frio e o esforço intensos, vividos nos Pirineus; o penoso calvário dos três seguidos dias de ventanias; a alegria de conhecer a beleza solar do Canal de Castilla; a alegria, a arte e o descanso, em León; a dor nos pés e os dedos enregelados; e tanto mais. Doze dias: tanto a recordar. Doze dias e já começávamos a desconfiar do que esta experiência do Caminho, de fato, tratava.


Depois, ainda passamos pela pequena Villavante e pelos campos e residências rurais de Santa Marina del Rey, onde também encontramos uma ferrovia, um pouco antes de chegar ao rio Órbigos.
O ponto em que encontramos o rio Órbigos é aquele onde se encontra uma das mais famosas pontes medievais da Espanha, a Puente de Órbigos.
Ela se estende sobre o leito do rio e vai além, unindo a vila que lhe pega emprestado o nome, Puente de Órbigos, ao vilarejo de Hospital de Órbigos, na extremidade mais distante da imagem acima.
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Centro de interesse nessa parte do Caminho, a Puente de Órbigos é uma linda e extensa ponte medieval, também conhecida como Puente de Paso Honroso, em referência a uma passagem épica, citada, inclusive, por Cervantes, no Don Quijote. A história teria se passado no local, no ano de 1434, quando um famoso cavaleiro organizou um dos mais famosos torneios da cavalaria espanhola. Se quiser saber mais sobre esta história, veja em A Lenda do Passo Honroso.
Um pouco adiante, chegamos a Villares de Órbigos.



Quando entramos em Villares de Órbigos, já eram em torno de 13 horas. Queríamos almoçar mas, não sabemos por qual motivo, se por respeito à tradição da siesta ou porque o dia de folga da cidade fosse às terças-feiras, tudo se encontrava fechado. Demos várias voltas, até nos apercebermos de que era em vão, e resolvemos, a contragosto, seguir até o próximo vilarejo. Apesar da frustração e da fome, tivemos que reconhecer que o local tem seus encantos, na sua maioria de natureza rural.






Quando chegamos a Santiáñez de Valdeiglesias, não foi difícil de achar onde comer. Logo vimos um albergue exibindo, ao lado da entrada, o tradicional cavalete-lousa, com as opções do menu peregrino que, usualmente, para meu desapontamento, muito pouco variavam.
Desta vez, porém, novidades. Havia um primeiro prato de salada com bacon e umas tais de gulas, que nos foram descritas, genericamente, pelo atencioso proprietário, como pescado. Chegado o prato, nos servimos e começamos a comer. E era uma delicia!

Já pela metade da degustação do prato, comentei com Bia:
—Deliciosa a salada! Só não entendi como fazem para cortar tão fininho o peixe.
—Bem, acho que não é cortado, porque não seria possível cortar assim em “cabelinhos”, respondeu Bia, querendo ressaltar que se tratavam de fios de seção circular, que não poderiam resultar de simples fatiamento. Ou seja, ainda que sendo pescado, aquilo não era peixe.
Intrigados, consultamos o Google e descobrimos que estávamos comendo “alevinos de enguia”! —Huuuuum! Delícia!
E foi mesmo. Concluímos que, às vezes, não saber é uma benção.
Depois do café e de um breve descanso, com aquela satisfação, que só uma boa refeição, coroada de uma descoberta culinária feliz pode proporcionar, retornamos à estrada, para enfrentar nosso terceiro trecho de subidas do dia, íngreme, mas uma linda porção do Camino!
Pois subimos o que havia a subir e, do outro lado, descemos o que nos foi dado descer. Foi a maior elevação do dia, seguida de uma gostosa descida, para alcançar San Justo de la Vega.


Uma vez alcançado o vilarejo de San Justo de la Vega, seguimos para atravessar o Río Tuerto e, logo, chegamos a Astorga.

Já na área urbana da Astorga moderna, mas ainda antes de chegar ao perímetro histórico, cruzamos uma linda pontezinha medieval e começamos a subir, obtendo uma bela vista do centro histórico.


Depois de uma penosa subida urbana, alcançamos o topo de uma colina que abriga uma igreja bastante antiga e um mosteiro adjacente.
Na frente do prédio do mosteiro, havia uma estrutura em metal e vidro, que nos chamou atenção e cuja extremidade se vê no canto inferior esquerdo da imagem acima. Paramos nossas bicicletas e fomos examinar de perto. Surpresa: tratava-se de uma cobertura baixa, que protegia os remanescentes de uma residência senhorial, da Astorga romana, que foi habitada no período que vai do séc. I ao IV dC. Uma casa com vários cômodos, incluindo termas de uso privado e parte de um piso, em mosaicos, bastante preservado, com desenhos dedicados ao deus Dionísio.



Depois seguimos a uma pracinha, onde havia o Museu Romano, que não visitamos, e mais uma igreja.
Astorga tem três praças que formam o eixo de interesse histórico e turístico da cidade. A Plaza Eduardo de Castro, que abriga a catedral, numa extremidade, e o Palácio Episcopal, numa lateral. A Plaza Santoclides, que tem belos jardins e o monumento à resistência da cidade contra Napoleão. E a Plaza de España, fechando ao sul o conjunto, com o edifício da sede do Ajuntamiento e simpáticos cafés.
Como chegamos pelo sul da cidade, chegamos primeiro à Plaza de España, onde paramos para tomar uma coca-cola.


Depois passamos pela Plaza Santoclides, que é muito bonita e ajardinada.

E, por fim, chegamos à Plaza Eduardo de Castro, onde sentamos num banco e selecionamos uma pousada para o descanso, que foi a Repouso de Wendy, de uma senhora engraçada, dona de uma loja de acabamentos para construção. Bem perto de nós, estava a catedral e, ao lado, o Palácio Episcopal.




Como ainda tínhamos tempo, resolvemos visitar o Palácio Episcopal, um dos principais projetos de Gaudí.
A visita começou pelos jardins, que abrigam os anjos que, originalmente, deveriam ocupar as cumeeiras do palácio.
Depois passamos ao interior do edifício, que além da originalidade da arquitetura, impressiona pelas formas inusitadas (como a da monumental entrada, que já foi mostrada acima), pela inovação na releitura de padrões antigos (como nos vitrais e na utilização das referências ao gótico).
Em especial, o palácio evoca a tradição da arquitetura medieval ibérica, pela utilização de seus elementos mais característicos, reinterpretadas: a cúpula, revisitada com ornamentos que remetem à influência moura, e o arcobotante, trazido para o interior do edifício e, assim, exposto.
Depois que nos instalamos na pousada, tomamos um bom banho e descansamos um pouco, era tempo de jantar. Eu estava em tratamento com o cicladol e ainda sentia bastante o tornozelo. Então, selecionamos um restaurante bem próximo à pousado, para que não fosse preciso caminhar muito. O escolhido foi o restaurante Serrano, relativamente caro, mas com ótimas avaliações. Valeu à pena. Experimentamos a Cecina, um prato típico local, que consiste numa espécie de presunto bovino cru. Realmente, uma delicia!
Depois, cama.
Resumo do dia 12 – Caminho de Santiago
Percurso: de León a Astorga
Distância e ganho de elevação: 56,4km com 526,6m de ganho de elevação
Até amanhã!
Adorei!!! Lugares lindos! Emocionante!!! Bia está linda, radiante ! O que é mesmo enguia? Risos !, que aventura… Esta semana vamos comemorar os aniversários: luiza, Daniel, Paulinho, Lauro Jr. Hoje, da Luiza. Lauro Jr vai opetar dia 30 pedras na bexiga, mas sai do hospital no dia seguinte, laparoscopia, dizem mt simples.Beijos
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Oba, que bom. Eu estou sem zap, porque perdi o celular, mas acesso o Face pelo iPad e posso receber recados pelo zap da Bia. Parabéns aos aniversariantes! Bjs!
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