O 11° dia no Caminho foi um dia de descanso na bela cidade de León. Tendo como base nosso pequeno e funcional estúdio, localizado na Calle Del Teatro, no coração da cidade velha, fizemos do descanso também um dia útil.

Após um bom café da manhã, no Café Rúa 11, que fica ao lado, voltamos ao estúdio para lavar as roupas de pedalar. Montamos um varal no meio da sala e ficamos imaginando, enquanto pendurávamos bermudas, meias e bandanas lavadas, a cara do dono do estúdio, se visse isso. —Oh! My goodness!

Assim cumpridas as obrigações domésticas, saímos novamente e subimos pela Calle Rúa (risos! Mas é assim que se chama), viramos à direita na Calle Ancha e seguimos em direção à catedral de Santa Maria de León, que é um dos mais significativos exemplos do estilo gótico, na Espanha.

Portal da entrada principal. Catedral de Santa Maria de León

Altos relevos da entrada secundária da catedral
Bia adentra à catedral.

Mais do que por qualquer outra coisa, a catedral é famosa pela qualidade de seus vitrais, que datam do século XIII e totalizam uma área de assombrosos 1.864 metros quadrados de vidros coloridos. Vejam alguns exemplos dessas maravilhas da religiosidade medieval:

As mais importantes inovações da engenharia do período gótico foram a utilização da abóbada em cruzaria e dos arcobotantes. A abóbada em cruzaria consiste na utilização de nervuras estruturais em diagonais, que transferem o peso da abóbada para pilares compostos, dando leveza e maiores possibilidades de vãos livres para os tetos das naves das igrejas.

Esquematização de uma abóbada em cruzaria

Já o arcobotante é o recurso que deu nome a uma forma de reforçar, estruturalmente, as paredes externas da igreja, de modo a permitir uma maior área de janelas, sem prejuízo à estabilidade do edifício. Com o uso de arcobotantes, que são estruturas em arco posiciona das do lado de fora da igreja, pode-se transferir parte do peso que deveria ser suportado pelas paredes, para essa estrutura externa.

Corte esquemático de igreja, indicando um arcobotante

A utilização dessas duas inovações permitiu aos construtores góticos dar maior leveza e aumentar a área possível de janelas (e, portanto, de vitrais). Por este motivo, muitos estudiosos classificam o gótico como um estilo caracterizado pelo uso da luz. Você já viu o resultado dessas técnicas no tamanho e quantidade de vitrais da catedral de León. Veja agora, o resultado geral, posicionando-se no meio da nave central dessa grande igreja e olhando para cima:

Teto da nave principal da catedral

Além da arquitetura e dos vitrais, a catedral tem outros tesouros a se apreciar: pinturas, esculturas, entalhes em madeira e outros materiais.

Frontão do altar principal, em madeira, ouro folheado e outros materiais
Parte do coro e um dos dois órgãos que equipam o templo
Um dos quatro painéis esculpidos em alabastro, que decoram o frontal do coro
Presépio em madeira policromada, numa das capelas do deambulatório (corredor que circunda o altar-mor)

Nesta visita à catedral de León, também aprendi que a denominação “Nossa Senhora do Ó”, designa a dedicação à Santa Maria grávida, como no caso da representação escultórica que se encontra numa das outras capelas laterais desse grande templo. Como ontem, 12 de maio, foi o dia das mães, vai aqui minha homenagem a elas:

Santa Maria, na expressão de Nossa Senhora do Ó

Depois da visita cultural à catedral, demos uma volta, à esmo, pelas ruas adjacentes e terminamos parando num café bem simpático, numa esquina defronte à antiga muralha romana.

Músico tocando, numa das vielas medievais do centro histórico
Autorretrato no centro histórico
Remanescentes da muralha romana
Simpático café, na rua da muralha romana

E foi aí que almoçamos hamburguesas, regadas à boa cerveja espanhola, dourada e de rico sabor. Detalhe: hamburguesa com ovo frito!

Hamburguesa com ovo frito, já semi-devorada

Ao fim da refeição, conversamos com os cunhados, no zap, sobre a fase pós-Compostela da nossa viagem: roteiros e lugares a visitar no norte de Portugal. Nessa ocasião foi que Bia expressou sua intenção de pedalar só até Santiago, sem fazer a extensão a Finisterre. Nem fiquei chateado porque, ainda que sem a extensão, esta viagem já está valendo demais da conta.

León, Calle de Los Cubos, com sua muralha romana

Depois de bem alimentados, no espírito e no corpo, nos separamos para programas distintos.

A saber, eu fui ao El Corte Inglés, para algumas compras urgentes, e fiquei impressionado com a loja. Enorme, bem equipada e organizada, tem uma seção de ciclismo muito boa, com bicicletas de boas marcas e uma linha completa de equipamentos, incluindo a cinta de reposição da Garmin, que eu precisava e tinha poucas esperanças de encontrar. Mas, ė claro, a razão principal da ida às compras era a substituição da sapatilha shimano-assassina.

No caminho para a loja, algumas cenas da véspera foram revisitadas e novas descobertas foram feitas:

Leão, da lateral da igreja de Santa Maria Del Camino, revisitado
O vão da muralha dupla da antiga cidadela
Vista de rua, com a torre da igreja Santa Maria Del Camino
Calle La Rúa
Sustentação de fachada, enquanto tudo novo é construído por trás, como em Paraty
Loja de um gravador incrível. Trabalho lindo
Detalhe da vitrine de gravuras

Uma vez chegado ao El Corte Inglés, depois de penar um pouco para achar a seção de equipamentos esportivos, naquele magazine enorme, tive ajuda de um vendedor para procurar uma sapatilha que me agradasse, mas, a principal dificuldade foi, como já me acostumei há muito tempo, a numeração. Como eu calço 38 (o número 40 europeu), que é a ponta inferior de numeração masculina, é sempre difícil encontrar muitos exemplares desse tamanho, em estoque. Dessa vez, havia somente de dois modelos, em número 40 europeu, sendo um deles uma sapatilha da marca própria da loja, que parecia boa e tinha um preço irresistível: apenas 39,95€, mais barato do que eu havia pago, no Brasil, pela shimano-assassina.

Depois das compras, voltei ao estúdio. Como meu tornozelo esquerdo ainda estava bem dolorido, eu precisava descansar um pouco, mas não sem antes passar os clipes da sapatilha rejeitada para a nova. Depois de tudo pronto, deitei e adormeci.

Enquanto isso, Bia foi visitar o museu Gaudí, que funciona na casa Botines, um enorme palacete, lindo, projetado por ele.

Casa Botines, onde funciona um museu de Gaudí

Bia voltou mais tarde, animada, com os olhos brilhando de satisfação pelo que viu e aprendeu sobre o grande arquiteto catalão.

Depois de tudo relatado e comentado—compras para um; exposição Gaudí para a outra—saímos, mais uma vez, para jantar.

Foi um dia de descanso, de fato. Mas até que movimentado.

Resumo do dia 11 – Caminho de Santiago

Percurso: ficamos em León

Distância e ganho de elevação: 0km com 0m de ganho de elevação

Até amanhã!

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