Depois de três dias seguidos de ventania e chuva, foi uma benção iniciar um pedal com frio de 9°C, mas sem ventos. Fora que a região de Itero de La Vega e do Canal de Castilla é maravilhosa.
Às 9:19h da manhã deste dia frio, Itero de la Vega ainda recendia a chuva e umidade. Saindo da cidade, entretanto, o tempo foi se firmando e o céu abrindo rapidamente, revelando afinal um tão esperado dia de primavera, cheio de luz e cores. Veja os contrastes dessas imagens, obtidas entre 9:25 e 9:40 da manhã, no trajeto em direção a Boadilla Del Camino:




Todo este caminho até Frómista é simplesmente lindo! São campos cultivados em meio a suaves colinas, com flores e árvores a todo lado.



Passa-se pela pequena Boadilla Del Camino com suas fazendas, o feno colhido, os animais de criação.


E chega-se, então, ao incrível Canal de Castilla, uma obra admirável de engenharia, construída entre a segunda metade do século XVIII e primeira do XIX, que se estende por incríveis 207km, através das províncias de Burgos, Palencia e Valladolid, e que é utilizado até os dias de hoje para irrigação.





Em Frómista, nos divertimos com uma cegonha, que fez seu ninho sobre uma espécie de poste de ferro, e penteava as penas, ignorando o movimento da rua, abaixo.
Na parte urbana de Frómista, nada especial a registrar, exceto a grande igreja de estilo românico, que parecia se preparar para um casamento, a julgar pelo caminhão que se encontrava estacionado junto a uma entrada lateral.
No vilarejo de Poblacón de Campos, paramos num pequeno bar, para tomar café e usar os banheiros. O dono ficou conversando conosco e descobrimos que era um colecionador de cédulas de dinheiro do mundo afora. No final ele se ofereceu para bater uma foto da gente e acabou participando de um selfie.
A partir de hoje, começamos a ver mais bikes no Camino, inclusive um ou outro grupo de ciclistas. A quantidade de brasileiros caminhantes, muitos identificados por bandeirinhas nacionais nos chapéus, bonés ou mochilas, também tem aumentado significativamente. Parece que a diminuição da distância e o apelo de uma experiência paulocoelhina de menor duração são apelos fortes. E, elocubrações à parte, eis que cruzamos o rio Ucieza, que viemos acompanhando por algum tempo, por uma bela ponte de pedra, e viramos para os lados de Villarmentero de Campos.


Numa parada eventual—não contem para ninguém: para fazer xixi—encontrei um sujeito grudento, atravessando a estrada!
E, assim passamos por Villarmentero de Campos, que nada nos deixou a mencionar, senão o belo céu, e seguimos para Villalcázar de Sirga, destacada pela antiga e bela igreja de Santa Maria La Blanca, que apreciamos bastante.



Em Villalcázar de Sirga, também encontramos um velho peregrino:
E com esse incentivo, seguimos a Carrión de Los Condes para o almoço, que foi bem especial, porque pedi—e comi—ovos com jija e fritas, sendo que jija é uma espécie de picadinho preparado com chorizo, ou seja, linguiça de sangue. Delícia! Fora o passeio por esta bela cidade, em clima de primavera.




Depois veio muita estrada reta e plana, maravilha, sem vento! E fomos, rapidamente, passando por terras da própria Carrilón de Los Condes,…
De Bustillo Del Páramo de Carillón,…
Da pequena Cervatos de La Cueva,…
De Ledigos,…
E de Lagartos,…
Antes de chegar a Moratinos, nosso destino deste longo e prazeroso dia.

Logo na entrada da cidade de Moratinos, dois fatos curiosos se passaram.
O primeiro diz respeito à hospedagem. A primeira propriedade que se encontra, ao chegar à cidade, é um hostal, com aparência imponente, grama artificial sob toldo na frente, mas sem nada de especial quanto às comodidades oferecidas, e caro para os padrões da região: 50€ por um quarto de casal, sem calefação. Recusamos e, seguindo um pouco à frente, após a Plaza Mayor, achamos um albergue bem simpático, pelo qual a Bia logo simpatizou. Oferecia as mesmas comodidades e o curioso nome de Hospital San Bruno, por 38€, incluído o folclore do dono italiano, paramentado com seu vistoso toque blanche, que servia os pratos simples do menu peregrino, descrevendo-os como se fossem sofisticadas iguarias da cozinha internacional. Muito simpático e engraçado.
Outro fato deveras curioso foi a estranha colina que havia logo antes de se entrar na cidade, que parecia mesmo uma aldeia de hobbits, saída dos livros do Tolkien.
Na verdade, como explica a placa que se vê na primeira foto acima e reproduzo no detalhe, abaixo, trata-se de uma colina comunal, onde cada família da cidade mantém sua bodega, um local fechado, onde se mantém temperatura constante, para armazenagem do vinho, queijos e outras produções caseiras, para consumo mais duradouro.
Foi nesse dia também que notei, após descalçar, uma dor sutil, mas pronunciada, no tornozelo esquerdo. Adiante, isso será motivo de outras preocupações e comentários.
Resumo do dia 9 – Caminho de Santiago
Percurso: de Itero de La Vega a Moratinos
Distância e ganho de elevação: 63,7km com 367,8m de ganho de elevação
Um longo dia de pedal.
Até amanhã!
Bia E Luiz, sensacional está viagem, comecei acompanhá-los hoje e não vejo a hora de ver o próximo dia !!!
Boa viagem amigos !
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Oi Vivi, que bom que está gostando!
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