A noite bem dormida no Hotel San Anton Abad valeu a pena. Depois de um bom café da manhã, com cereais, iogurte, café, suco e torradas com manteiga e geléia, saímos para mais um dia duro de pedal. Sob frio intenso, mas sem chuva, com o céu ainda carregado de nuvens ameaçadoras, iniciamos a subida íngreme, de 5km, que avança pela floresta de carvalhos, subindo os Montes de Oca, em direção à pequena San Juan de Ortega, 8km adiante e, com mais 4km, Agés.
Havia, ainda, bastante vento contrário, mas menos que na véspera. E sempre esperávamos que arrefecesse, ou mudasse de direção. Mas foi em vão.

O Caminho vai subindo pelos Montes de Oca, em meio a uma linda floresta de carvalhos, com os galhos ainda invernais, parecendo secos, contrastando com outras vegetações, já verdejantes, floridas.
No final do trecho de subida, alcançamos um casal de peregrinos que chamou-nos atenção porque o homem caminhava, por aquele sendeiro pedregoso, descalço. Então eu puxei conversa, para saber porque ele caminhava descalço, e descobrimos, não apenas que era porque ele está habituado a andar assim, como também soubemos tratar-se de um casal de brasileiros do Paraná. Conversa vai, conversa vem, a Bia disparou lá na frente e eu tive que correr atrás.
A partir do 5° quilômetro até Agés, no 16°, passando por San Juan de Ortega e Alarzón, foi uma sucessão de descidas suaves, que até ajudavam a abstrair do vento contrário, cujas rajadas a toda hora nos forçavam a prestar muita atenção ao equilíbrio e no controle do guidão, para compensar os desvios de curso que a variação do vento induzia.







Em Agés, fizemos uma parada para descansar do vento. Tomamos coca-colas e dividimos uma empanada, no único bar do vilarejo.


Então, de novo, os dois para fora, para o frio e o vento, rumo às escavações arqueológicas e antropológicas da Sierra de Atapuerca, logo depois da vilazinha de Zalduendo.
Três quilômetros após a vila de Zalduendo, deixamos a rota do Camino. Viramos à direita e seguimos por uma estradinha pouco usada e poeirenta em direção a um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo.
Atapuerca, nome da serra e também da vila próxima (a nordeste), identifica 3 sítios arqueológicos que aí foram descobertos durante as obras de construção de uma ferrovia, em 1.964. Diante da importância da descoberta, que foi logo se tornando clara para os pesquisadores da evolução humana, a ferrovia foi deixada de lado e logo começou a exploração científica. Foram encontrados utensílios e restos de comunidades humanóides de vários tipos, datando de entre 960 mil e 1,2 milhões de anos de idade, incluindo evidências da vida de comunidades de Homo erectus, Homo antecessor (ou Homo erectus antecessor), Homo heidelbergensis e Homo neanderthalensis (o popular neandertal).



Nós fizemos um passeio pela trilha que corre pelo alto da dolima, posto que só grupos pré-agendados podem entrar nas áreas de escavações, que prosseguem até o presente. Na trilha, havia muitos painéis explicativos e também pudemos ouvir partes das explicações que uma pesquisadora dava para um feliz grupo autorizado.

Além do estudo arqueológico, o local também se tornou uma área de preservação dos espécimes animais e vegetais da região.
Já por volta de 17h, resolvemos retomar o Camino, porque começava a garoar e a temperatura caía. Fizemos um trajeto um pouco diferente do que utilizamos na ida e voltamos à rota original, na altura de Ibeas de Juarros. Depois, foram mais 15km planos, na verdade uma ligeira descida, mas que foi entidade como subida, devida ao vento contrário que novamente crescia de intensidade.
Esta parte do Caminho corre sempre ao lado da rodovia e não tem muitos atrativos. Finalmente, Burgos. E ainda tivemos energia para ir até o centro, para finalizar etapa, visitar a catedral e jantar.

Quando fomos visitar a catedral, restava apenas uma hora, antes do fechamento. Mesmo assim valeu a pena. A catedral é linda!
Ainda, registramos duas curiosidades, durante a visit à catedral de Burgos.
Primeiro, o mapa que há na saída dos claustros. Ele mostra os inúmeros caminhos que, partindo dos mais diversos pontos da Europa levavam, na Idade Média, a Santiago.
Segundo, e isso espero que algum amigo católico me explique a razão, porque este Cristo crucificado está usando uma saia:
Depois da visita à catedral, fomos jantar um bom menu peregrino, na praça que fica em frente. Escolhemos, dentre os três ou quatro que ali se localizam, o restaurante Don Nuño. Muito bom.
No geral, achamos Burgos mais cara para o visitante do que as cidades anteriormente visitadas. Qualquer hotelzinho custava 60 euros. Como não queríamos ficar em albergue comum, selecionamos um hotel pelo Booking.com, fora do centro, ao lado da Universidade. Foi uma opção complicada, porque a distância, após um pedal pesado, desencoraja os passeios.
Infelizmente, não conseguimos visitar o Museu da Evolução Humana, que guarda parte dos achados da Sierra de Atapuerca. Já estava fechado no horário de nossa chegada.
Resumo do dia 7 – Caminho de Santiago
Percurso: de Villafranca Montes de Oca (Hotel San Anton Abad) a Burgos
Distância e ganho de elevação: 42.1km com 445,7m de ganho de elevação
Até amanhã!
Adorei! Fotos lindíssimas, locais lindos, obras de arte incríveis, principalmente de arquitetura. Fiquei um pouco decepcionada, com vontade de ver os achados dos sítios arqueológicos… Não dá pra voltar na hora que estiver aberto? Beijos, Mamãe, Edith.
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Não deu. No dia seguinte, pegamos estrada cedo, antes do museu abrir.
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Adorei! Fotos lindíssimas, locais lindos, obras de arte incríveis, principalmente de arquitetura. Fiquei um pouco decepcionada, com vontade de ver os achados dos sítios arqueológicos… Não dá pra voltar na hora que estiver aberto? Beijos, Mamãe, Edith.
Ah, tb achei mt estranho o Cristo de saia, aliás de vestido! Dá pra perguntar???
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Preciso deixar aqui um comentário de ‘mãe coruja’: meu filho fotografa muito bem e escreve melhor ainda! “E saiu de dentro dela!!!” risos Que orgulho!!!! Beijos
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