Nosso 5° dia no Caminho começou com providências de logística da viagem e terminou com uma galinha sagrada. E no meio disso, ainda teve música country e flores lindas.

Como eu disse, começamos pela logística. Precisávamos trocar dólares por euros, o que se mostrou uma tarefa surpreendentemente difícil, porque nenhum banco queria nos atender, dizendo que faziam câmbio somente para correntistas.
Depois de muitos desencontros e conversas com os Logroñenses, que queriam muito ajudar, mas não sabiam, conseguimos o câmbio numa agência do Santander, na mesma praça do Paseo Del Espolón, onde tínhamos passeado ontem à noite. Utilizamos a estratégia da “senhora que necessita”: Bia entrou sozinha na agência e conquistou o gerente, que foi todo atenções com a senhora brasileira que precisava de ajuda. Como eu fiquei do lado de fora olhando as “bicis”, aproveitei para fotografar as rosas da praça, que mamãe, com certeza, vai amar.
Com isso tudo, só conseguimos pegar a “estrada” quase às onze da manhã, muito tarde para um legítimo peregrino. De qualquer forma, lá fomos nós em direção ao nosso destino desse dia, a cidade de Santo Domingo de la Calzada.
Começamos por atravessar o parque El Campo de Logroño, com seu lago artificial, por represamento do rio Somero, onde paramos um pouco, para a Bia usar o banheiro. No parque há cisnes, locais para descanso, mesas de piquenique e muitos esquilos pelos gramados e árvores.


Depois seguimos por estradas de cascalho e de terra, como esta da foto acima, em direção a Navarrete. No caminho, encontramos uma placa interessante, da associação de ciclismo Centro BTT de Moncalvillo, mostrando os principais roteiros de MTB da região e apreciamos a chegada a esta pequena cidade, que se dá ao final de uma boa descida.




Passando Navarrete, vieram Ventosa e Alesón, que seriam pouco dignas de nota, não estivesse na primeira o marco de distância de 593km até Santiago, e não encontrássemos perto da segunda o músico country que mencionei no início. Bia gravou a música e eu fotografei.

Mas se a Alesón urbana não mereceu nossa atenção, por não estar diretamente em nosso trajeto, sua área rural muito nos importou, posto que o Caminho cruza-a por vários quilômetros, onde voltamos a desfrutar da paisagem das vinhas e ver, ao longe, uma serra maciça, que até faz lembrar da Mantiqueira, se o observador abstrair os pontos de neve em alguns cumes e esquecer que no vale do Paraíba não faz esse frio.




Já para os lados de Nájera, nossa próxima cidade de passagem, havia uma área de descanso para peregrinos que chamou a atenção pela profusão de margaridinhas que cobriam o chão.

Logo depois, chegamos a Nájera, onde fizemos fotos na ponte sobre o rio Najerilla e demos num beco sem saída: queda de barreira.

Já pensando em voltar para a ponte, para dar uma longa volta e retomar o Caminho mais adiante, eis que sai de sua casa um espanhol com seu cachorrinho, nos vê e vem conversar.
—Fazem o Caminho?
—Sim. Vamos retornar para dar a volta pela ponte seguinte.
Então ele só sinalizou que não e pediu para que o seguíssemos. Deixou o cachorrinho com uma vizinha que passava pela travessa e foi nos levando pela rua paralela, à direita dessa que está na foto, que no meu gps aparecia como rua sem saída. Pois, ao final dela, entrou conosco numa grande área de estacionamento, que cruzamos e nos deparamos com uma estradinha de terra bem curta, que terminava no guard-rail da nossa rota, logo depois do trecho impedido. “Pasem las bicis por encima y buen camino!” disse ele com um sorriso e acenou um adeus.
Pena. Não tenho fotos desse simpático espanhol.
Pois saímos de Nájera por entre as vinhas e em meio a vinhas cruzamos o município de Azofra, que, na saída, resolveu nos presentear com lindas flores.


E mais e mais vinhas tinha Cirueña, mas também campos de trigo e canola, que formavam lindos desenhos verde-amarelos pelo chão. E, ainda, florzinhas silvestres azuis.


Começamos o dia com tempo bom, embora frio. Vimos a temperatura subir até a casa dos 30°C e se estabilizar na casa dos 20°C. Um dia delicioso. Chegamo a Santo Domingo de La Calzada ainda com ânimo para circular pela cidade velha e conversar comWilson, um ciclista da zona leste paulista que cruzou conosco perto da catedral. Num certo momento do passeio, vimos uma inscrição enigmática, numa placa da cidade, que dizia: “Santo Domingo de La Calzada – onde la gallina canta despues de asada.”



Depois de nos instalarmos no hotel das freiras cisternienses, fomos jantar num restaurante simples, mas bom, chamado, curiosamente, “La Gallina”. E eis que, ao pegarmos o cardápio, solucionamos o mistério de tanta galinha que canta, mesmo depois de assada:
Não é incrível que acreditem numa estória tão absurda? Pois tanto acreditam que vimos que, na catedral, mantém-se um galinheiro (sim, dentro da igreja) para cultuar a memória do milagre.
Resumo do dia 5 – Caminho de Santiago
Percurso: de Logroño a Santo Domingo de La Calzada
Distância e ganho de elevação: 53km com 819m de ganho de elevação
Até amanhã!