Um dia de sol maravilhoso, muito frio pela manhã, mas com céu limpo. Fizemos um pedal pesado, com quase 1.100m de ganho de elevação em 60km, incluindo a dura subida para o Alto dos Perdones, mas, por mais que cansados, chegamos a Villatuerta muito satisfeitos, com o coração e os olhos cheios de cores deste lindo País Basco espanhol.

Como na chegada a Pamplona, na véspera, percorremos o lindo parque do Paseo Fluvial, que acompanha as margens do rio Arga, desta vez no sentido contrário, para retornar ao traçado do Camino de Santiago.


Uma vez lá, logo encontramos um outro parque, o de la Tejeria, com sua imponente fortaleza e o testemunho da luta contra o fascismo nas recentes eleições gerais, que deram vitória ao partido socialista espanhol.



Depois dos parques, alcançamos o centro velho de Pamplona, muito bonito e cheio de surpresas, como a de encontrar, por puro acaso, a lojinha de lembranças que o Augusto Tomimatsu recomendou, na Calle de Curia, 15.



Deixando Pamplona para trás, atravessamos o município de Cirzur, de onde já se via, ao longe os imponentes Altos dos Perdones, com as hélices do parque eólico sempre girando.







A subida foi realmente dura, com trechos muito íngremes e pedregosos, mas há pequenos trechos em que a inclinação diminui. Num destes, encontramos o pequeno povoado de Zariquiegui, com sua igreja medieval e um albergue, onde paramos para um lanche.


Lá no alto, com a parada para descanso, algumas surpresas.





Enquanto eu aguardava a chegada da Bia, apareceu um casal, de carro, para fotografar a filha, que fazia a primeira comunhão. Pintou a primeira curiosidade: flagrei a pequena “Marilyn Monroe”, segurando o vestido que o vento, intenso, levantava.

Pois Bia chegou e sugeriu que eu fotografasse o furgão de um albergue que faria muito sucesso, depois de tal subida insana, com um certo casal brasileiro que conhecemos.

Como nem tudo são alegrias, também tivemos a tristeza de testemunhar o monumento que foi erigido ao lado da entrada da trilha de descida, que marca o local de um similar do horrivelmente famoso Cemitério de Perus, no Brasil. Aqui, trata-se do sepultamento clandestino de 92 pessoas assassinadas pelos franquistas em 1.936. Mais uma prova de que o fascismo é a coisa mais horrenda que o ser humano já criou. Também é testemunho de que o horror fascista não deve ficar impune, sob pena de se vê-lo renascer, como no Brasil, inclusive pelo voto livre e voluntário de pessoas que eu estimava. Na segunda foto abaixo, no painel, pode-se ler os nomes das vítimas.


Para descer, evitamos a trilha dos peregrinos, que todos disseram ser demasiado perigosa para os ciclistas. Fizemos um contorno de uns 2-3km pelo asfalto, para alcançar o trevo que se vê no lado direito da foto abaixo, e daí seguindo para a esquerda até reencontrar a trilha peregrina, já ao pé da grande montanha.

Ultrapassados os Perdones, seguimos pelo vale, também coberto de trigais, passando por Uterga, Muruzábal e Obanos, para alcançar Puente La Reina.










Em Puente La Reina, almoçamos num restaurante simples mas razoável, numa praça, e depois cruzamos novamente o Arga, aqui bem mais caudaloso, por uma bela ponte, para seguir o Caminho em direção a Mañero, Cirauqui e Lorca.




A região de Mañero é uma serra difícil de subir, mas muito bonita, donde se pode ver o perfil dos Altos dos Perdones à distância, do outro lado do vale.


Cirauqui é especial. Um pequeno burgo encarapitado numa colina cercada de vinhedos e trigais. Após a área urbana, mais campos, muitas oliveiras, colinas e trilhas desafiadoras. Lindo.
Ainda em Cirauqui,já quase chegando a Lorca, vimos uma ponte de um canal fluvial, parte do sistema que liga vários rios navegáveis da Europa.
Cruzamos Lorca e, logo, o vale de Yerri, até atingir Villatuerta, onde tivemos bom descanso num Albergue vegetariano, muito simpático e com excelente comida dessa especialidade.

Resumo do dia 3 – Caminho de Santiago
Percurso: de Pamplona a Villatuerta
Distância e ganho de elevação: 58,8km com 1.081m de ganho
Até amanhã!